Suicídio na Adolescência

Por Nzaquimuena Tumba

Suicídio na adolescencia

A adolescência é um momento crítico para o desenvolvimento socioemocional. Um dos marcos da adolescência é a mudança de todo processo de interação social, construção de identidade e aproximação de grupos com os quais tenham maior afinidade.

Gastam mais tempo com seus pares e buscam núcleos e grupos fora da família com maior intensidade. A expansão das redes sociais produz maior autonomia, inclusive emocional, estando relacionado a mudanças neurais que estão na base de melhor autocompreensão socioemocional .A adolescência entendida também como período de reconstrução social se afasta da unidade familiar e começam se identificar com outros grupos. Assim a modulação da atividade neural irá depender do contexto de interação social na qual o adolescente está inserido então as principais características do adolescente em termos sócio emocional será: Aceitação por pares, relação com recompensa (Valesques,2023)

Cérebro do adolescente

A compreensão da química cerebral e dos fatores subjacentes à ideação suicida é importante para o desenvolvimento de tratamentos eficazes, que podem incluir terapia, medicação e intervenções de apoio. No entanto, cada caso é único, e é essencial uma avaliação cuidadosa por parte de profissionais de saúde mental para determinar a abordagem mais adequada para cada indivíduo. Pessoas com pensamentos suicidas podem apresentar mudanças químicas no cérebro, incluindo desregulação de neurotransmissores, inflamação cerebral, estresse crônico e mudanças estruturais. Essas alterações podem afetar o humor e o comportamento. No entanto, essas mudanças não são a única causa da ideação suicida, pois fatores psicossociais e genéticos também desempenham papeis importantes. A compreensão dessas mudanças químicas é crucial para desenvolver tratamentos eficazes, mas a avaliação por profissionais de saúde mental é essencial para determinar a abordagem mais adequada para cada indivíduo(Elisabetsky,2021)

Durante a adolescência, três processos dinâmicos de maturação fisiológica ocorrem com grande intensidade e marcam esse período neurônios.

Eliminação Sináptica: Durante a adolescência, ocorre uma “poda sináptica”, um processo em que conexões neuronais menos utilizadas ou menos eficientes são eliminadas, permitindo a otimização da comunicação entre os neurônios.

Aumento da Substância Branca: A quantidade de substância branca, composta por fibras nervosas mielinizadas, aumenta no cérebro durante a adolescência, melhorando a conectividade cerebral e a eficiência das funções cerebrais.

Mudança no Sistema de Neurotransmissores: O sistema de neurotransmissores no cérebro dos adolescentes passa por mudanças, tornando-os mais sensíveis a substâncias químicas como a dopamina, o que pode afetar seu comportamento, humor e motivação.

Durante a adolescência, a organização dos circuitos corticais, especialmente no córtex pré-frontal, desempenha um papel fundamental nas mudanças no funcionamento cognitivo e no controle emocional dos adolescentes. Aqui está um resumo desse processo:

Desenvolvimento do Córtex Pré-Frontal: O córtex pré-frontal é uma área crucial do cérebro responsável por funções executivas como o controle de impulsos, a capacidade de planejamento, a organização do ambiente externo e a regulação das emoções. Durante a adolescência, essa região passa por mudanças significativas em termos de conexões neurais e desenvolvimento.

Regulação Emocional e Controle de Impulsos: O desenvolvimento do córtex pré-frontal está diretamente relacionado à melhoria da capacidade de regulação emocional e controle de impulsos dos adolescentes. À medida que essa região se aprimora, os adolescentes têm uma melhor capacidade de lidar com emoções intensas e de tomar decisões mais racionais.

Riscos na Adolescência: No início da adolescência, devido às mudanças em curso no cérebro e às pressões sociais e emocionais, os adolescentes podem estar mais suscetíveis a comportamentos de risco. Isso pode incluir acidentes, comportamentos impulsivos, bem como um aumento na incidência de transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade. O risco de suicídio e homicídio também pode ser mais elevado nessa fase.

A tendência de suicídio entre adolescentes muitas vezes não é percebida devido a sinais sutis, estigma em torno da saúde mental, falta de conhecimento e comunicação deficiente. Para abordar essa questão, é essencial educar-se sobre saúde mental, manter canais de comunicação abertos com os adolescentes, estar atento a sinais de alerta, procurar ajuda profissional quando necessário e promover a conscientização na sociedade sobre a importância da saúde mental e da prevenção do suicídio entre jovens. É importante destacar que essas mudanças no funcionamento cognitivo e emocional durante a adolescência fazem parte de um processo normal de desenvolvimento. No entanto, é fundamental que os adolescentes recebam apoio, orientação e cuidados adequados durante esse período de transição, especialmente se estiverem enfrentando desafios emocionais ou comportamentais significativos. A compreensão dessas mudanças neurobiológicas ajuda a contextualizar muitos dos desafios enfrentados por adolescentes e a informar estratégias de intervenção e prevenção.

Suiícido 

A prevenção do suicídio é um esforço coletivo que envolve a comunidade, a escola, os profissionais de saúde e a família. A segurança e o bem-estar do adolescente devem ser a principal prioridade em situações de ideação suicida, e buscar ajuda profissional é essencial para garantir o tratamento adequado e o apoio necessário. Precisamos ter escuta ativa, acolhimento, encaminhar ao psiquiatra , ter toda atenção no adolescente é muito importante na idealização suicida precisa estar medicada . a prevenção do suicídio é uma questão crucial que requer uma abordagem cuidadosa e abrangente. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição) não classifica o comportamento suicida como um transtorno em si, mas sim como um sintoma de vários transtornos mentais. Isso ocorre porque o comportamento suicida pode ser uma manifestação de vários problemas de saúde mental subjacentes, como a depressão, o transtorno bipolar, o transtorno de estresse pós-traumático, entre outros.

Portanto, o DSM-5 aborda o comportamento suicida em relação ao diagnóstico dos transtornos mentais que podem incluir esse sintoma. Cada transtorno tem critérios específicos de diagnóstico e categorias onde o comportamento suicida pode ser mencionado como um dos sintomas ou características associadas. Por isso que a prevenção da ideação suicida em adolescentes envolve ações de pais, escolas e a sociedade em geral. As famílias devem promover a comunicação aberta, identificar sinais de alerta e buscar ajuda profissional se necessário,no livro da Valeska Zanello  menciona sobre  Nichter(1981) destacando  que o sofrimento pode se expressar de várias formas por meio dee linguagem  e aquilo é considerado claramente como sintoma . 

As escolas podem educar sobre saúde mental, oferecer apoio psicológico, treinar pessoal e criar ambientes seguros. A sociedade deve combater o estigma, garantir o acesso a recursos de saúde mental e apoiar políticas de prevenção do suicídio. É um esforço coletivo para proteger a saúde mental dos adolescentes.

Medidas importantes a serem tomadas:

Escuta Ativa: Ouvir atentamente o adolescente e demonstrar empatia é fundamental. Permita que eles se expressem e compartilhem seus sentimentos e pensamentos sem julgamento.

Acolhimento: Mostre ao adolescente que você se importa e que está disposto a ajudar. Ofereça apoio emocional e um ambiente seguro para que eles possam se abrir sobre seus problemas.

Encaminhamento ao Psiquiatra: Se houver suspeita de ideação suicida ou risco real de suicídio, é crucial encaminhar o adolescente a um profissional de saúde mental, como um psiquiatra, para avaliação e tratamento adequados.Pessoas com ideação suicida podem apresentar disfunções em diversas substâncias químicas no cérebro, incluindo neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina, bem como desequilíbrios nos neurotransmissores excitatórios e inibitórios, como glutamato e GABA. Além disso, hormônios do estresse e inflamação cerebral também podem desempenhar papeis na ideação suicida. 

Tratamento psiquiátrico

É importante que uma pessoa com ideação suicida continue a tomar sua medicação, mesmo que não pareça ter efeito imediato, por várias razões. Muitos medicamentos psiquiátricos levam tempo para funcionar plenamente, podem ajudar a estabilizar gradualmente o humor e a prevenir recaídas. Além disso, a medicação deve ser parte de um plano de tratamento mais amplo, incluindo terapia e supervisão médica para garantir segurança e eficácia. A interrupção da medicação por conta própria pode ser perigosa, e qualquer preocupação deve ser discutida com um profissional de saúde mental.

Atenção Contínua: Acompanhar o adolescente de perto é importante. A ideação suicida pode requerer intervenção de longo prazo, como terapia e possivelmente medicação, conforme determinado pelo profissional de saúde mental.

Redução do Acesso a Meios Letais: Se houver risco iminente de suicídio, é importante reduzir o acesso do adolescente a meios letais, como armas de fogo ou medicamentos perigosos.

Suporte Familiar: Envolver a família do adolescente e outros membros de apoio é valioso. A família pode desempenhar um papel importante no processo de recuperação.

Psicoeducação

A psicoeducação pode ser fornecida por profissionais de saúde mental, escolas, organizações comunitárias e recursos online. Quanto mais as pessoas souberem sobre questões de saúde mental e suicídio, mais preparadas estarão para lidar com essas situações de maneira compassiva e eficaz.

Conscientização: Promover a conscientização sobre saúde mental e prevenção do suicídio é fundamental para combater o estigma e garantir que as pessoas busquem ajuda quando necessário. A psicoeducação ajuda a aumentar a conscientização sobre questões de saúde mental e suicídio. Ela informa as pessoas sobre os sinais de alerta, os fatores de risco e as formas de buscar ajuda.

Redução do Estigma: Através da educação, o estigma em torno da saúde mental e do suicídio pode ser reduzido. Quando as pessoas entendem melhor essas questões, estão mais propensas a apoiar e compreender aqueles que estão sofrendo.

Identificação Precoce: A psicoeducação capacita as pessoas a identificar sinais de alerta precocemente. Isso é crucial para intervir antes que um problema de saúde mental se agrave.

Prevenção: Ao fornecer informações sobre estratégias de prevenção do suicídio, a psicoeducação pode ajudar a reduzir o risco de suicídio, ensinando habilidades de enfrentamento e resiliência.

Promoção de Recursos: Ela informa sobre os recursos disponíveis, como linhas de apoio, terapeutas e grupos de apoio, tornando mais fácil para as pessoas buscar ajuda quando necessário.

Apoio à Família e Amigos: A psicoeducação não é apenas para indivíduos que estão lutando com problemas de saúde mental; ela também ajuda amigos e familiares a entender e apoiar seus entes queridos de maneira mais eficaz.

Referências

Bruna Brandão Velasques. (2023). Neurodesenvolvimento Infanto Juvenil: Entendendo o Cérebro da Criança e do Adolescente. Editora Rubio Ltda. Rio de Janeiro.

Valeska Zannello. (2018). Saúde Mental, Gênero e Dispositivo-Cultura: Processos de Subjetivação. Editora APPRIS. Curitiba.

Elaine Elisabetsky, Ana Paula A. Herrmann, Angelo Piato, Viviane de Moura Link. (2023). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5-TR (American Psychiatric Association). Tradução: Daniel Vieira, Marcos Viola Cardoso, Sandra Maria Mallmann da Rosa. 5ª edição revisada. Editora Edgard Blucher Ltda. São Paulo.

Deixe um comentário