Psicanálise

Perversão, Neurose, Psicose

Por: Nzaquimuena Tumba

Perversão , psicose , neurose

No programa The Noite, que foi ao ar em 11 de outubro de 2022, a Dra. Ana Beatriz Barbosa explicou que quando uma pessoa sai da realidade, ela passa a acreditar em uma realidade que é única para ela e a generaliza como se fosse absoluta. Durante a entrevista, o apresentador Danilo Gentili questionou se a origem desse estado poderia ser de natureza medicamentosa ou uma doença. A Dra. Ana respondeu que muitas doenças podem sim causar esse estado e destacou que o uso pesado de drogas pode ser um gatilho para a psicose, incluindo a esquizofrenia.

Segundo o canal do professor Hélio Miranda Jr., psicanalista e professor da PUC-Minas, Freud não abordou a psicose de maneira primária em suas obras e a diferença entre neurose e psicose não é muito clara em seus escritos. Foi apenas nas teorias pós-freudianas que a distinção entre as estruturas psíquicas foi delineada, o que hoje chamamos de estrutura. O professor também destacou um trecho do texto de Freud de 1911, “Notas Psicanalíticas sobre um Relato Autobiográfico de um Caso de Paranoia” (Dementia Paranóia, 1911), que trata do livro de Daniel Paul Schreber, intitulado “Memórias de um Doente dos Nervos”. Nesse texto, a psicose é explorada, pois Freud acredita que um mecanismo de defesa muito presente na psicose é a projeção, que tem uma importância maior nesse contexto. Nas questões psicóticas, sempre se trata do outro, colocando-o como realidade. Freud chama esse fenômeno de “ruptura da realidade”. No caso do presidente Schreber, a condição delirante era a crença de que Deus o queria como mulher e que, dessa união, surgiria uma nova raça. O mundo passa a girar em torno dele, e o outro sempre quer algo dele, como no caso de Deus querendo torná-lo mulher. Esse estado é descrito como uma “perda da realidade” na psicose e na neurose, conforme discutido por Freud em 1924.

Diferenças entre neurose e psicose

A neurose refere-se a uma perturbação mental em que o conflito ocorre no nível consciente e envolve ansiedade, sintomas obsessivo-compulsivos e fobias. A histeria, por sua vez, é uma neurose que envolve sintomas físicos sem causas orgânicas identificáveis, como paralisias ou cegueira funcional. Já a psicose é caracterizada por uma perda do contato com a realidade, delírios e alucinações. A perversão, por sua vez, é uma perturbação que envolve desvios sexuais marcantes em relação às normas sociais. (Freud, 1924). Freud diz que na neurose  a reação ao recalque ocorre como sintomas por exemplo: As fantasias amorosas , segundo Freud foi perdida  se referindo a castração social à medida que esses recalque  volta, se torna neurose.  O psicótico não tem como manejar , o delírio que surge como tentativa de reparar , não existe castração simbólica.  Para Freud a linguagem para o psicótico a palavra é a coisa . O professor  continua mencionando a neurose tem recalque , a psicose rejeição.

Perversão 

A perversão é um termo utilizado na psicanálise para descrever certos padrões de comportamento sexual que diferem das normas sociais convencionais. Ela se refere a um desvio ou distorção das formas consideradas “normais” de expressão sexual.

De acordo com a teoria psicanalítica, a perversão não é necessariamente um termo moral ou pejorativo, mas uma categoria clínica que abrange uma variedade de comportamentos e fantasias sexuais que podem ser considerados atípicos ou incomuns. As perversões podem envolver atividades ou fantasias sexuais que fogem ao que é socialmente aceito ou podem estar relacionadas a uma fixação em determinadas formas de prazer.

É importante ressaltar que o conceito de perversão na psicanálise não se baseia apenas na descrição de certos comportamentos, mas também na dinâmica psíquica subjacente a esses comportamentos. A teoria psicanalítica considera que as perversões estão ligadas a formações psíquicas específicas e a uma organização peculiar da vida sexual de uma pessoa.

Perversão neurose

Segundo o professor Hélio a Neurose é uma condição em que a vida sexual do indivíduo fica reprimida, enquanto a perversão pode ser vista como o oposto disso. Na perversão, o eu do sujeito encontra realização naquilo que o neurótico está reprimindo. Um exemplo disso é quando um indivíduo sádico encontra prazer em proporcionar prazer a alguém no masoquismo. A sexualidade na perversão é caracterizada pelo desvio do que é considerado natural, envolvendo recusas e aceitações da castração. Freud discutiu essa questão especificamente no contexto do fetichismo. É importante ressaltar que todas as pessoas possuem certo grau de fetichismo, conforme as fases psicosexuais se desviam em outras formas ao longo da vida. Na fase genital, acompanhada do amadurecimento, as pulsões são cada vez mais direcionadas para a materialização delas. O desvio não necessariamente se refere a uma doença, mas sim ao fato de que, desde a infância, ocorrem transformações que geram prazer em diferentes formas.. 

Neurose obsessiva/ Histeria

No canal do Jorge Forbes, quando perguntado sobre a neurose obsessiva e a histeria, ele abordou essas categorias destacando o papel do recalque como base da neurose. Segundo ele, a psicose pode ser vista como uma neurose bem-sucedida, onde a pessoa psicótica conseguiu atravessar o recalque presente na neurose. Por sua vez, a histeria é caracterizada por um desejo insaciável, sempre buscando algo que nunca é preenchido. Já o obsessivo dá importância ao que possui, enquanto desconsidera ou descarta o que não tem. O histérico está sempre à espera de um príncipe encantado”. Os cientistas têm uma perspectiva histórica, acreditando que a ciência sempre melhora ou alcançará algo. As universidades, por sua vez, tendem a ter uma abordagem mais obsessiva, padronizando o conhecimento desejado e restringindo-se ao estabelecido.

A neurose obsessiva 

 Caracterizada pela presença de pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos. Na perspectiva psicanalítica, esses sintomas são entendidos como mecanismos de defesa contra impulsos e desejos inconscientes reprimidos. Os pensamentos obsessivos e as compulsões funcionam como tentativas de controlar ou neutralizar a ansiedade gerada por esses impulsos indesejados.

A histeria

 É caracterizada por sintomas físicos ou somáticos sem uma causa física identificável. Esses sintomas somáticos podem incluir paralisias, tremores, dificuldades respiratórias, dores inexplicáveis, entre outros. Na histeria, os sintomas físicos são entendidos como expressões simbólicas de conflitos e emoções inconscientes. Eles representam uma forma de comunicação do inconsciente, permitindo que o indivíduo expresse e lide com seus conflitos psíquicos por meio do corpo.

É importante destacar que tanto a neurose obsessiva quanto a histeria estão enraizadas em dinâmicas inconscientes. Ambas as condições são influenciadas pela história de vida, experiências traumáticas e conflitos não resolvidos. Na psicanálise, o objetivo é explorar esses aspectos inconscientes por meio da análise das associações livres, dos sonhos e de outros fenômenos psíquicos.

Complexo de Édipo

Freud considerava o Complexo de Édipo como um processo natural e universal no desenvolvimento humano. Na palestra de Jorge Forbes, é mencionado que o Complexo de Édipo atua como um intermediário entre nós e o mundo. Somos seres que não apenas agem de forma natural, mas também precisamos criar e encontrar maneiras de nos relacionarmos com o mundo através da negociação do recalque. O recalque é visto como a base da neurose, enquanto sua rejeição é a base da psicose. Tanto a aceitação quanto a rejeição do recalque podem estar relacionadas à dinâmica da perversão. É importante ressaltar que o Complexo de Édipo pode ser compreendido como uma espécie de “software” psíquico que influencia nossa maneira de interagir com o mundo e lidar com nossos desejos e conflitos. Ele envolve a relação complexa entre os desejos amorosos e eróticos em relação ao genitor do sexo oposto, os sentimentos hostis em relação ao genitor do mesmo sexo e os processos de identificação com o genitor do mesmo sexo.

Essa abordagem psicanalítica busca entender como esses aspectos psíquicos influenciam a forma como nos relacionamos, como lidamos com o desejo e a sexualidade, e como o processo de resolução do Complexo de Édipo pode moldar a nossa personalidade e o nosso desenvolvimento emocional.

Referência:

Miranda Jr., Hélio. “Perversão Psicanálise “. Hélio MirandaJr, 2018, https://www.youtube.com/watch?v=tidPnWqe9Ck&ab_channel=H%C3%A9lioMirandaJr.

Escola Paulista de Psicanálise. (2010). A importância da teoria freudiana na psicanálise [Vídeo]. Recuperado de https://www.youtube.com/watch?v=wJIXdnv9mTM&ab_channel=EPP-EscolaPaulistadePsican%C3%A1lise

Forbes, J. (Palestrador). (20.05.2022). O Complexo de Édipo na psicanálise [Vídeo]. Recuperado de https://www.youtube.com/watch?v=8PWUjqCc8pY&ab_channel=JorgeForbes

Forbes, J. (Palestrador). (2022.). O Complexo de Édipo e seu papel no desenvolvimento psíquico [Vídeo]. 

“In Treatment: Transference and Countertransference” (Autor: Gabriel A. Bernstein)

Deixe um comentário